sábado, 19 de abril de 2008

Aspectos do Direito levantados pela discussão do filme Koyaanisqatsi. Mestrado debate a doença das grandes corporações, em Filmografia.

Cartaz da 2ª Filmografia - 05/04/2008

Aspectos do Direito levantados pela discussão do filme Koyaanisqatsi

O filme “Koyaanisqatsi: vida fora de equilíbrio” foi produzido ao longo de dez anos e lançado em 1983 por Francis Ford Coppola, tendo sido fruto do trabalho do diretor Godfrey Reggio, do cinegrafista Ron Fricke, do músico Philip Glass e de outros colaboradores.
A insólita película não tem diálogos e mostra imagens audiovisuais que instigam o espectador à percepção do choque de dois mundos: a louca e desequilibrada vida urbana tecnologizada e o meio ambiente intocado no contexto norte-americano. Apesar de o lançamento ter sido feito há 25 anos, as reflexões levantadas pelo diretor do documentário são atualíssimas: o aquecimento global, o consumo excessivo e a proeminência da tecnologia permanecem na pauta do dia.


Cena de exibição do filme Koyaanisqatsi

O filme foi exibido no último sábado, 05/04/2008, no grande auditório do UNICURITIBA, como evento do projeto Filmografia, promovido conjuntamente pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão e pelo Curso de Mestrado em Direito, organizado pelo Grupo de Pesquisa “Efetividade dos preceitos constitucionais sobre desenvolvimento sustentável e responsabilidade social ambiental: quo vadis, empresa brasileira?”, da Linha de Pesquisa 2 (Atividade empresarial e Constituição: inclusão e sustentabilidade).

Alunos de diferentes cursos de graduação e pós-graduação estiveram presentes e discutiram suas percepções do fillme


Como sensibilização prévia à audiência da obra foi apresentado um outro documentário, com declarações de Godfrey Reggio e Philip Glass sobre o processo criativo e as intencionalidades discursivas.

A Profa. Dra. Gisela Bester, constitucionalista, líder do grupo de pesquisa e coordenadora do Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania, conduziu o evento lançando uma pergunta aos presentes: o que é uma vida em desequilíbrio e o que seria uma vida equilibrada do ponto de vista de cada subárea do Direito representada pelos debatedores.



Professora Doutora Gisela Maria Bester coordenou as discussões

Após a exibição de Koyaanisqatsi abriu-se um profícuo debate, pelos expositores, enfocando-se diversos aspectos do filme relacionados com o Direito, enfatizando-se principalmente as questões ambientais, consumeristas e constitucionais.

Assim, a própria Profa. Gisela trouxe à discussão a polêmica circundante à Lei de Biossegurança, que liga biotecnologia e Direito no tema dos impactos das pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil. “Levantou-se, no STF, uma discussão quanto à constitucionalidade da referida lei a partir de um falso embate entre a maximização da vida e a possibilidade de uma vida mais digna que possa resultar das pesquisas para as pessoas acometidas de enfermidades degenerativas, com a eventual vida de um pré-embrião. Por certo que este pré-embrião tem uma dignidade, uma vez que embora não seja pessoa tampouco é coisa, porém essa dignidade, na ponderação de bens constitucionais, não deve prevalecer sobre a dignidade de uma vida já instalada”, enfatizou Gisela.

Por sua vez a professora convidada, Dra. Fabiane Bueno Netto Bessa, pesquisadora nas áreas de Responsabilidade Social e de Políticas Públicas, do Mestrado e do Doutorado em Direito da PUC-PR, e da FGV, instigou, dentre as muitas interpretações que fez, um ponto para ser refletido pelos participantes: o papel do Direito em relação ao poder econômico e ao poder político. “Onde estão as pessoas nas políticas públicas?”, questionou Fabiane.


Professora Doutora Fabiane Bueno Netto Bessa


Eliseu Raphael Venturi, licenciado em Artes Visuais pela FAP-PR e graduando em Direito pelo UNICURITIBA e pela UFPR, discorreu sobre a simetria das imagens em equilíbrio com a trilha sonora em uma obra para tratar do desequilíbrio, falando também sobre o princípio da precaução inerente às práticas educativas ambientais. “Um ponto a ser discutido é a prática tecnológica para uso – na educação formal e informal – e para a formação da racionalidade ambiental”, disse.


Acadêmico Eliseu Raphael Venturi

Em seguida, a Profa. Msc. Alessandra de Mattos, de Direito do Consumidor e de Direito Civil do Curso de Direito do UNICURITIBA, enriqueceu a proposta analisando que os desequilíbrios são, em larga medida, regidos pelas questões da produção e do consumo. “Não somos contra o consumo, só queremos que se consuma de forma mais consciente”, comentou, pautando-se em autores como Zigmunt Bauman.



Professora Mestre Alessandra Mattos

A Profa. Danielle Tetü Rodrigues, de Direito Urbanístico e Meio Ambiente do curso de Direito do UNICURITIBA, chamou a atenção sobre a “pressa” com a qual as pessoas vivem, sem saber muito bem para onde estão indo, sem prestar atenção no que se está fazendo. “Temos que nos questionar para nos autoconhecer, priorizando os princípios da compaixão e da solidariedade”, aconselhou.
Por fim, a Profa. Dra. Marta Tonin, pesquisadora na Área de Ética Empresarial do Mestrado em Direito do UNICURITIBA, alertou sobre o desequilíbrio gerado pela exploração das pessoas e dos trabalhadores pelas grandes corporações, fazendo referência ao tema abordado na última Filmografia, na qual foi exibido o documentário “The Corporation”.

Após as falas dirigidas desses debatedores, os acadêmicos presentes usaram a palavra e se posicionaram positivamente quanto à recepção do conteúdo transmitido no evento, participando com suas interpretações do filme, coligando-as com experiências das suas atividades profissionais cotidianas e de leituras nas áreas afins, enriquecendo ainda mais o debate e cumprindo com os objetivos maiores da filmografia em promover a crítica e a reflexão acerca dos problemas mais emergenciais da contemporaneidade.



Professora Fabiane e Professoras Marta, Danielle e Alessandra. Ao fundo, os membros do Grupo de Pesquisa.

Como citar esta matéria:

BESTER, Gisela Maria; VENTURI, Eliseu Raphael. Aspectos do Direito levantados pela discussão do filme Koyaanisqatsi. Curitiba: 2008. Disponível em: <http://www.unicuritiba.com.br/webmkt/mestrado>. Acesso em: 19 abr. 2008.

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Confira também, abaixo, a notícia da realização da 1ª Filmografia de 2008: The Corporation

Cartaz da 1ª Filmografia de 2008 - 08/03/2008

Mestrado debate a doença das grandes corporações, em Filmografia


A figura legal da “pessoa jurídica” tem uma origem interessante. Em meados do século 19, nos Estados Unidos, valendo-se de uma emenda constitucional que garantia os direitos dos negros recém-libertados da escravidão, algumas empresas clamaram para si o direito “individual” à propriedade e ao lucro, intitulando-se “pessoas”. Após diversas apelações, a Suprema Corte norte-americana reconheceu o direto das corporações e, desde então, elas assumiram uma “personalidade legal”. Aproveitando esse mote, os diretores do documentário “The Corporation” – Mark Achbar e Jennifer Aboott – fazem uma análise crítica dos grandes grupos empresariais com o roteiro de Joel Bakan (autor do livro que deu origem ao filme).

Exibição do filme, no Grande Auditório do Campus Milton Vianna

Por meio de depoimentos de presidentes de grandes empresas, intelectuais e ativistas sociais, o filme apresenta o comportamento das corporações. Analisando a “personalidade” da “pessoa jurídica” corporativa, o filme utiliza os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para fazer o diagnóstico psiquiátrico das grandes empresas. Entre os sintomas apresentados estão: desinteresse em relação aos sentimentos dos outros; incapacidade de manter relações duradouras; despreocupação com a segurança dos outros; incapacidade de experimentar o sentimento de culpa; propensão a mentir e enganar; incapacidade de se conformar com normas sociais, respeito às leis e costumes. Cada um desses “sintomas” é ilustrado por casos relatados pelos entrevistados. O diagnóstico final é o pior possível: as corporações têm um desvio de personalidade grave, que pode ser considerado um comportamento psicopata. Apesar disso, o filme mostra que há chances de mudanças, como é demonstrado por alguns gerentes corporativos que caíram em si sobre essas problemáticas.O documentário levanta diversos temas para uma profunda reflexão sobre a sociedade capitalista, baseada no individualismo e no consumo inconsciente. O filme foi exibido no UNICURITIBA, dia 8/3/2008 (sábado), dentro do projeto Filmografia, promovido pelo Programa de Mestrado em Direito, em parceria com Núcleo de Pesquisa e Extensão Acadêmica (NPEA). A procura pelo evento foi tão grande que ele teve que ser transferido do Mini para o Grande Auditório. Para criar o clima de cinema e descontrair o ambiente, os professores promotores cotizaram-se para servir pipoca a todos os participantes. Além de alunos do Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania, das especializações e das graduações do UNICURITIBA, participaram estudantes de outras instituições de ensino superior (Dom Bosco, UTP, Positivo, Unibrasil, Mater Dei, Espírita) e integrantes da comunidade local. Com 145 participantes, foi a Filmografia de maior êxito de público entre as até hoje realizadas pela Instituição.Após a exibição do documentário, houve um profícuo debate. A Profª Drª Gisela Maria Bester, coordenadora do Mestrado em Direito e organizadora do evento, abriu as discussões trazendo os temas abordados no filme para a realidade atual, especialmente para os conflitos que vêm ocorrendo na América do Sul. Gisela, líder do Grupo de Pesquisa que mantém no Mestrado (“Efetividade dos Preceitos Constitucionais sobre Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social Ambiental: quo vadis, empresa brasileira?”), destacou os protestos gerados pelo processo de privatização da água e do gás natural e a falta de identidade e de respeito das grandes corporações com os lugares onde instalam suas plantas. Também chamou a atenção para a violência moral e psíquica que encetam em seus ambientes laborais, levando ao assédio psíquico dos trabalhadores. Uma informação inserida no filme e que a Profª Gisela enfatizou foi a origem da Fanta Laranja: a Coca-Cola Company criou a Fanta para continuar vendendo produtos para os alemães durante a Segunda Guerra Mundial. “E eu que gostava tanto de Fanta Laranja”, brincou Gisela.

A atenta platéia assiste o filme e depois participa do debate com os Professores


O Dr. Fábio André Guaragni, professor do Mestrado, aprofundou a discussão de pontos abordados no filme, analisando as questões sociológicas e teóricas do Direito Penal de risco, levando o debate para a criminalidade empresarial, notadamente ambiental. Ele representou, no debate o Grupo de Pesquisa em Direito Penal Econômico, que coordena no Mestrado, frisando que o comportamento das corporações reflete a falta de referências da sociedade atual. A Profª Marta Tonin foi convidada para debater por ser responsável pela disciplina “Ética Empresarial: sustentabilidade e direitos especiais”, no Mestrado. Ela levantou questões relacionadas à ética, pois as posturas adotadas pelas corporações são altamente questionáveis em todas as esferas sociais, políticas, culturais e econômicas.Mais do que levantar a discussão sobre o comportamento das grandes empresas, a exibição e a discussão sobre o filme “The Corporation” foi uma excelente oportunidade para todos os presentes fazerem uma reflexão sobre seu próprio comportamento e valores e como eles influenciam negativamente na esfera socioambiental contemporânea.No dia 5 de abril, haverá outra Filmografia, debatendo temáticas semelhantes. A Profª Gisela, novamente coordenadora do evento, convida todos e informa que o debate terá a participação de professores de Direito do Consumidor e de Direito Ambiental e de alunos da Graduação em Direito, do UNICURITIBA, para realizar de forma ainda mais eficaz a integração do Mestrado com os demais cursos. Será exibido o filme “Koyaanisqatsi: vida fora de equilíbrio”, da trilogia do criativo diretor Godfrey Reggio. Com início às 9 horas e término ao meio-dia, nesta segunda Filmografia oferecida pelo Mestrado em Direito já serão incorporadas muitas sugestões que já foram registradas nas fichas de avaliação do evento pelos participantes da última realização.

A debatedora e organizadora do evento, Professora Gisela Maria Bester

Como citar esta matéria:
BESTER, Gisela Maria; OKUBARU, Fábio. Mestrado debate a doença das grandes corporações, em filmografia. Curitiba: mimeo. 2008. Disponível em: <
http://www.unicuritiba.com.br/webmkt/mestrado/noticias.htm>. Acesso em: 19 abr. 2008.